mecanismo

todos os dias quando ia dormir pensava em todas as mulheres que levaria pra cama e dizia pra si mesmo tudo o que faria com elas durante a noite toda mesmo sabendo que nunca em hipótese alguma tentaria de fato algo além das conversas que sempre o fizeram mais amante que qualquer nudez


o sonho e a matéria

se não soubesse que o dedo doído é produto da sua negligência e ansiedade, diria é que do trabalho duro em busca do sonho. se não fosse também pela poeira acumulada do lado da cama, o quarto seria o estopim, a oficina, o atelier, o esconderijo das distrações dos dias normais — a boemia trazida pra dentro de casa. o corpo exalta o sucesso; barriguinha profissional, barba por fazer, amigos silenciosos e pensamentos perdidos nos prazos de validade.

/cansa mesmo essa literatura que não é literatura, essa falsa erudição que sempre vivi. o sonho é pingo no i, é bola pra dentro. — me perco é na matéria, na minha barriga que mostra como a minha palavra é o ar de um cafajeste.

fermata [ou ~tem um cheiro de chuva no meu quintal]


!    !

/um pouco a mais, um pouquinho a mais — além do necessário, e pouco demais pra eu poder me lembrar. hoje a chuva fincou meus sonhos no chão, dentro da lama, como essa coisa mesmo que vêm de um céu e pressiona o teto da gente pra alguma raiz que a gente não vê (mas se colocar a mão, percebe). como um quê de escondido, plantado e sem adubo, ao acaso e ao capricho, inocente, ten den ci o so. sempre. sempre. sempre. sempre.