do pó ao pó

passei uns dias pensando nisso mesmo, a gente olha fotos das pessoas bebês e pensa; daí olhamos pra hoje  e não vemos mais nada.

no fundo dá até dó. 

tem os bigodes; crescem grandes homens, mulheres independentes, o tempo some e parece que não tem mais espaço para nada, nem pra nós mesmos – principalmente pra nós mesmos – e não falo da vida metropolitana, do trânsito, do caos, das notas baixas, dos problemas no trabalho; falo dos sonhos fastfood, da literatura semi-digerida que chega a nossos pés, dos olhares que nem se cruzam, das músicas que nem ouvimos mas que estão ali pra evitar um certo silêncio. silêncio que parece pesado, pesado demais pra gente, um silêncio que lembra que

nós nunca tivemos inocência alguma, mas simplesmente não tínhamos tempo de exercer a malícia em suas últimas conseqüências. É como nunca termos sido descuidados ou feridos – mas a idade chega e tudo é desencadeado. [obrigado, Rhode [

esse silêncio grita, berra, esperneia; e a gente não liga dizendo que no fundo tudo é bobagem, que a gente tem um pseudointelectualismo que não serve pra nada, afinal se não traz feijão pra casa, pra que é que serve?; e assim a vida vai, só vai, e vai sozinha, pra um não-lugar que é mais do que passagem, que tem a gente como nós o temos, como alguma coisa vazia que se usa pra ‘não ficar em branco’, pra não fazer sentido e poder ter alguma coisa que ocupe a mente não deixando ver o que realmente deveríamos. por descuido ou displicência,

/no fundo a gente até gosta, tem gosto de cano, gatilho e pólvora.

8 comentários em “do pó ao pó

  1. Onde está o menino que eu fui?
    Está dentro de mim ou se foi?

    Sabe que jamais o quis
    e que tampouco me queria?

    Por que andamos tanto tempo
    crescendo para depois nos separarmos?

    Por que não morremos os dois
    quando minha infância morreu?

    E se minha alma se foi
    por que me segue o esqueleto?

  2. no fundo dá até dó…
    você está se referindo à minha foto de bebê “burguer king”? hauhauah

    pra quê tanto pessimismo?
    realmente, não exercíamos a malícia que é inerente ao ser-humano, agora exercemos (e como!), não somos inocentes, crescemos, vamos em direção a um não-lugar levados pela vida (esse ente despersonalizado que às vezes tem vontade própria e carrega o tempo nas costas sem que possamos sequer perceber)… mas somos. pseudointelectuais ou não, somos. levados, manipulados, envoltos numa grande confusão de informações eletrônicas e em tempo real, irreal, surreal, mas continua existindo a matéria, a idéia abstrata que vira concreta, as conversas de bar e os sebos com indicação por ordem alfabética. eu prefiro pensar que fazemos parte de um tempo, de uma época…

  3. ahuauha nao me refiro a sua foto de bebe.
    tem a ver com as atitudes que vemos por ai da gente na rua, ver no que é que nos tornamos, como foi que viemos parar aqui.
    não chega a ser pessimismo, é mais uma coisa que de querer ver,
    de comodismo.

  4. não temos culpa se não temos tempo, se temos fome e se o feijão está cada vez mais caro. insatisfeitos ou não… se somos levados, temos duas alternativas: seguir as tendências ou remar contra a maré. mas como você mesmo disse “por descuido ou displicência” a gente gosta mesmo é de se acomodar (e que nem sempre por nossa culpa, mas pela situação em que nos encontramos). somos a geração do silêncio interno… da descrença em massa… temos mais medo de não saber o que falar do que de virar “pó”, vivemos (a)fundados em fugas (sejam sentimentais ou psicotrópicas). pra que é que serve? serve pra saber que ninguém está sozinho no mundo.

  5. com certeza.
    mas pra isso as pessoas precisam acreditar (de verdade!) que “no fundo tudo é bobagem”…

    por isso eu acredito e vou sempre repetir que: “These are hard times for dreamers!”

  6. No fundo eu também gosto, como um ser humano normal, com senso de perigo ao contrário. Como um ser humano normal,sempre burro demais e optando pelo cano, gatilho e pólvora.
    Belo texto. Sabe que eu até lembrei, em alguma coisa, daquele meu texto das saudades antecipadas? De qualquer jeito, este seu está deveras melhor.

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