“Vamos aos poucos nos esquecendo deles, dos nossos mortos, enquanto afundam na terra ou são queimados, ou mesmo atirados com pesos ao mar. Somem da nossa vista e transferimos às ogivas de concreto, aos mármores de suas lápides, aos emblemas de pedra ou dispostos na grama – crucifixos de madeira, hexágonos orientais, olhos de peixe, asas de falcão, dedos em figa – o que seria puro desespero. Construímos marcos e monumentos, pequenos oratórios à beira das estradas, cidadelas em miniatura para tentar esquecê-los. Fico pensando se cada casebre não será no fundo uma lápide antecipada, e se jamais um único tijolo foi assentadocom propósito diferente deste – se tudo o que pareceria uso prático, abrigo contra as intempéries, interioridade aconchegante, não seria já a pedra da morte futura, que rugia de perto. Túmulos pavimentam o esquecimento, permitindo à vida que faça o que tem de fazer, seguir sem os mortos (o que nos incluirá a todos).”
[RAMOS, Nuno[
Aterrador. Verdadeiro.
e bonito, inclusive 🙂
túmulos pavimentam o esquecimento…, mas a saudade sempre existirá!
“Fico pensando se cada casebre não será no fundo uma lápide antecipada, e se jamais um único tijolo foi assentado com propósito diferente deste – se tudo o que pareceria uso prático, abrigo contra as intempéries, interioridade aconchegante, não seria já a pedra da morte futura, que rugia de perto.”
A gente sai da nossa casa e vai pra outra. E pra outra…
E volta pra casa…